Do sertão ao mar: como uma barragem reconstruiu a vida de moradores do Seridó
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LOC: “O sertão vai virar mar / Dá no coração / O medo que algum dia / O mar também vire sertão”.
Em 1977, a dupla Sá e Guarabyra compôs uma canção que se tornou símbolo do avanço de grandes obras de infraestrutura hídrica nos sertões brasileiros.
TEC - Sobe som “Sobradinho” - Sá e Guarabyra
ados trinta e quatro anos do lançamento da música Sobradinho, moradores do antigo distrito de Barra de Santana, no interior do Estado do Rio Grande do Norte, testemunharam a construção da Barragem de Oiticica.
TEC - Som de água correndo forte
Era o mar que salvaria da sede e da seca a população de uma das regiões mais vulneráveis ao processo de desertificação no Brasil.
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LOC: O início das obras se deu no ano de 2013, e viria a desapropriar mais de 12 mil hectares no sertão do Seridó potiguar. Uma área que compreende os municípios de Jucurutu, São Fernando e Jardim de Piranhas. Quase 4 mil pessoas tiveram de se deslocar em razão do barramento do Rio Piranhas para a implantação de um reservatório imenso, com capacidade de reter setecentos e quarenta e dois milhões de metros cúbicos de água.
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LOC: Muitas famílias não queriam deixar a região e a comunidade onde tinham vivido por gerações. Atendendo aos pleitos dos moradores atingidos pela construção da barragem, o Governo do Rio Grande do Norte paralisou as obras. A condição era que fossem fechados acordos de indenização primeiro. Com recursos do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, e apoio do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, o governo estadual agiu. Estava decidido: uma Nova Barra de Santana seria construída, em um local não muito distante, mas seguro das inundações por vir.
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TEC - SONORA 1 - Érica Naiara Gomes Fernandes “Eu tenho 31 anos, eu nasci e me criei na Velha Barra de Santana”
LOC: Essa é a Érica Naiara Gomes Fernandes.
TEC - SONORA 2 - Érica Naiara Gomes Fernandes “Lá era um lugar pequeno, pacato, é, simples, mas muito acolhedor. Eu costumo dizer que a gente morava em uma zona rural e hoje a gente mora numa mini cidade.Toda projetada, planejada. Casas boas e bonitas. E que jamais a gente ia ter condições de construir uma casa assim. Meu avô, que já é falecido, era um dos maiores proprietários de terra dentro da Barra Velha. E a gente vivia da agricultura familiar. Criando gado, animais. Na Barra Velha, tinha água encanada. Porém, uma água bruta que vinha diretamente do rio e era mandada pras casas.
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LOC: Barra de Santana era um distrito urbano de Jucurutu, com padarias, oficinas e comércio, mas não tinha nem abastecimento de água potável nem tratamento de esgoto. O pecuarista e agricultor Reinaldo Pereira de Araújo viveu ali a maior parte dos seus 68 anos e relembra os tempos de seca.
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TEC - SONORA 1 Reinaldo Pereira de Araújo “Lá teve uma época que a gente descia uma bomba para ir buscar água, longe, longe, para vir para a rua, porque tinha secado o rio, não tinha água. A gente depois botava uma bomba numa banqueta reta que tinha lá para trazer água para casa. Era difícil.”
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LOC: O governo federal pagou mais de 60 milhões de reais em indenizações durante a construção da barragem de Oiticica. No acordo firmado com a população, foram definidas três opções de restituição: ressarcimento com o Governo do Estado comprando os lotes que seriam alagados; permuta das antigas residências por imóveis novos de tamanho equivalente; e uma permuta mista, que incluía a troca das casas e mais um pagamento indenizatório. Essa última opção era para quem se enquadrasse como comerciante e prestador de serviço.
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LOC: A ideia era incentivar as pessoas a ficarem em Jucurutu, oferecendo meios de reconstruir as atividades produtivas e comerciais. O governo do Estado viabilizou 22 pontos comerciais no centro em Nova Barra de Santana. Foi ali que a Érica instalou o quiosque de açaí dela. E tem lojas de roupas, salões de beleza, posto de saúde, escola, creche e ginásio esportivo, mas esses espaços ficam na quadra do setor institucional, bem pertinho. O contraste entre a antiga e a nova Barra trouxe outras perspectivas de vida para Érica, que está esperando o segundo filho.
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TEC - SONORA 3 Érica Naiara Gomes Fernandes “Não sei ainda se é menina ou menina. Mas eu pretendo continuar aqui. Crescer. Porque a gente viveu uma vida e hoje a gente está vivendo outra. E a gente tem que pensar no futuro, no dia de amanhã.E eu penso muito no turismo que vai dar aqui através da Barragem de Oiticica. Já tenho empreendimento e pretendo, dentro dele, crescer ainda mais. Pra que as pessoas, ao virem visitar o Complexo Barragem Oiticica, a nova Barra de Santana, venham e voltem com a perspectiva que gostou. E eu pretendo viver assim.
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LOC: Outras famílias, como a de Reinaldo, ainda são proprietárias de terras em locais secos no entorno da barragem. Todos os dias, o pecuarista vai de madrugada para o seu sítio em São Fernando, cuidar de seus animais e cultivos. Apesar de manter a mesma rotina, Reinaldo faz uma ressalva:
TEC - SONORA 2 Reinaldo Pereira de Araújo “Lá na barra onde eu morava, a minha casa lá, talvez valesse uns 20 mil. Essa casa aqui, quando eu cheguei, com pouco tempo, o menino botou 100 mil. Olha a diferença de lá pra cá, né? A diferença é grande, porque as casas são boas. Só que... Isso aqui já fui eu que fiz. Esse alpeno foi eu que fiz. Fiz a murada, fiz um T lá, fiz outro quarto lá pra trás. É, pra ficar melhor. O futuro da gente agora é pouco, porque a gente já tá um velho, né? O futuro vai ser pros netos, pros filhos, né?”
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LOC: O fechamento total das comportas da barragem de Oiticica ocorreu em novembro de 2024, após a conclusão dos reassentamentos. Cerca de 217 famílias foram reassentadas em Nova Barra de Santana. Outras 115 famílias de proprietários e produtores rurais foram reassentadas nas agrovilas de Jucurutu, São Fernando e Jardim de Piranhas, todas já inauguradas.
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LOC : A barragem de Oiticica, que faz parte do Projeto de Integração do Rio São Francisco, recebeu 46 milhões de reais do Governo Federal em 2024 para que o Governo do Rio Grande do Norte desse continuidade às obras. O ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, destaca que essa é uma das iniciativas para garantir a segurança hídrica no Nordeste.
TEC - SONORA - Ministro Waldez Góes “O principal, em nome do presidente Lula ao povo potiguar, é a garantia de 100% dos recursos orçamentários e financeiro pra todas as obras de infraestrutura hídrica que possam garantir água para o consumo humano e também para a produção de alimentos de baixas emissões”
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LOC: Na época da construção da barragem, foi acordado com o governo do Estado que os trabalhadores rurais sem terra que perdessem o local do trabalho após as obras ganhariam imóveis próprios nas agrovilas. Nessas comunidades rurais, todos os terrenos têm uma casa com um quintal produtivo, saneamento básico e tratamento de água. Existem também lotes coletivos para plantios temporários. Quem não tinha terra, nem condição de produzir por conta própria, hoje tem casa, tem terra e pode sustentar sua família com agricultura familiar.
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Para saber mais sobre as ações do governo federal em segurança hídrica, e: mdr. gov. br
Produção e Reportagem, Giulia Luchetta